segunda-feira, 31 de agosto de 2020

A minha experiência com a Rinoseptoplastia - uma verdadeira aventura!

Olá!

Bem-vindo ao meu blog. O meu nome é Andreia, tenho atualmente 23 anos e aqui conto uma pequena história sobre a minha experiência - do antes e depois - da minha rinoseptoplastia

Tudo começa em Março de 2012. Com apenas 15 anos de idade, decidi consultar o meu médico otorrinolaringologista, por iniciativa dos meus pais. Para além dos problemas respiratórios que sentia na altura, eu sofria muito de bullying na escola. Era conhecida pelo meu nariz característico, por sua vez grande, torto e gordo. Monte Evereste, nariz-papagaio, nariz-montanha ou 'Torta', eram estas as minhas alcunhas. Apesar de ter sido dificil viver com estas alcunhas no meu dia-a-dia, no fundo compreendia pois eu própria sentia nojo do meu nariz. Eu sabia que não era perfeito. Eu sabia que tinha um nariz fora do normal. E os meus pais aperceberam-se do meu complexo e quiseram ajudar-me.

Quando demos entrada no consultório, o doutor Carlos Alexandre olhou para o meu nariz e mandou-me fazer um scan à cabeça. Fiz um raio-x. O resultado confirmou o diagnóstico: eu tinha o septo totalmente torto. O desvio estava saliente para o lado esquerdo e uma das fossas nasais estava completamente fechada. Por ter o septo tão desviado é que tinha imensas complicações respiratórias: eu sofria todos os dias de sinusite crónica para além da habitual rinite alérgica. Estava constantemente com crises alérgicas e estava viciada em spray nasais. Não havia um dia que tivesse o nariz desentupido e em toda a minha vida cresci com o nariz fechado ou entupido. Respirava pela boca e só naquele momento no consultório é que me apercebi que não era normal respirar apenas pela boca. Também sofria de dores de cabeça intensas e uma pressão horrível na face que só passava se tomasse comprimidos. Havia dias que eu não conseguia abrir os olhos e só queria ficar na cama. O meu dia-a-dia era assim - spray nasais, anti histamicos e ben u rons para a dor de cabeça. Estava viciada e dependente deste infitino 'loop' de medicação, o que não era propriamente bom para a minha saúde.

O doutor afirmou que a única maneira de resolver as minhas dificuldades respiratórias seria através de uma cirurgia - uma rinoseptoplastia. Existe uma diferença entre rinoplastia e septoplastia. A minha cirurgia é uma mistura das duas. Aconselho a leitura deste artigo pois é importante distinguir bem as cirurgias: Clique aqui. No meu caso, era evidente a obstrução nasal e a deformidade do septo, por isso, o doutor mostrou-se disposto em corrigir o aspecto feio do meu nariz, para além de melhorar a qualidade respiratória, o cerne da cirurgia. 

Um mês antes da data marcada da cirurgia, o doutor Carlos mandou-me fazer imensos exames para determinar de que estaria capaz. Fiz análises ao sangue, eletrocardiograma, ecocardiograma, uma TAC à cabeça, fora outros pequenos exames que eram também necessários. Felizmente estava bem de saúde, os resultados estavam ótimos e oficialmente, estava preparada para a cirurgia. No dia 12 de Julho de 2012, entrei no Hospital da Ordem Terceira em Lisboa, estava em jejum e absolutamente nervosa. Fui com os meus pais e com a minha tia. Assim que entrámos, fui levada para um quarto privado e prepararam-me. Deram-me uma bata para vestir, colocaram-me a soro e duas horas depois, fui levada para o bloco operatório. Enquanto aguardava no bloco pelo doutor Carlos, lembro-me perfeitamente de ter dado uma última festa ao meu nariz, como se fosse uma despedida do velho "eu". Fui levada para a sala onde iria decorrer a cirurgia - estava imenso frio - e o anestesista mandou-me contar até 5. Lembro-me de ter contado até 3 e depois disso, apaguei-me.

4 horas depois, acordei da anestesia e estava no recobro. Era perto da 1 da manhã e lembro-me de estar a tremer imenso (mais tarde confirmaram que estava a ter uma ataque de hipotermia), tinha imensos enfermeiros à minha volta, a minha mãe estava a segurar-me na mão e eu lembro-me de lhe ter perguntado (embora sem conseguir dialogar o alfabeto correctamente) se eu já tinha sido operada. Ela percebeu e disse que sim. Ela estava toda chorosa e ainda deixaram entrar o meu avô que só teve segundos para me mandar beijinhos e imediatamente foi levado para fora da sala. 

Lembro-me de colocarem um tubo enorme debaixo do cobertor que eu tinha, tubo esse que largava ar quente. Eu continuava com imenso frio mas não sentia dores, estava bastante sedada. Os enfermeiros mandaram a minha mãe sair e injetaram-me sedativos e antibióticos e um deles limpava a minha cara pois tinha imenso sangue a cair. Eu naquele momento estava um pouco rabugenta e só queria dormir e comecei a pedir para que fossem embora. Tudo isto durou 10min e eu adormeci novamente. Foi uma noite dificil, não consegui dormir pois acordava de 10 em 10 minutos com sangue a escorrer pela cara, boca seca e desconforto na coluna pois não podia dormir deitada. 

Às 7h da manhã acordei e meia hora depois apareceu a enfermeira. Perguntava se estava bem disposta e se tinha dormido bem. Eu só queria beber água pois não aguentava a minha boca seca. Distribuiram o pequeno almoço e enquanto os outros doentes comiam peças de fruta, pão com fiambre e ovos mexidos, eu só tive direito a dois iogurtes líquidos. Estive proibida de comer comida sólida e aquecida pois faz parte do pós-operatório. Apenas líquidos e frios: sopas frias, bledines, iogurtes líquidos, gelados, gelatinas, etc. Durante os 2 dias em que estive internada, só comi/bebi iogurtes e gelados. Mais nada. Passei fome, imensa fome. Enquanto a minha mãe - que passou os dias no quarto comigo - comia o seu almoço completo de feijoada ou hamburguer no prato, eu só tinha direito a dois iogurtes liquidos e um gelado Epa da Olá. 

Nas 12h após a cirurgia fui levada para o meu quarto privado, trocaram-me os pensos (pois os que tinha estavam muito ensaguentados) e tive de usar um 'tampão-penso' na cara, para absorver o sangue que me saia do nariz. Continuei a soro, sedativos e antibióticos e nunca senti dores. Fui obrigada (e constantemente controlada) a usar uma toalha com um saco de gelo nos olhos, para evitar inchaço e dores. E assim foi esta rotina durante as primeiras 24 e 48 horas. Os meus olhos incharam, ficaram amarelos e com nódoas negras mas felizmente consegui evitar que ficassem muito inchados graças ao gelo e em apenas 4 dias, o inchaço desapareceu. Fiquei apenas com nódoas negras e amareladas.

Assim que recebi alta dois dias depois, fui para casa e segui a medicação (desta vez em comprimidos), mantive uso do gelo na cara e o repouso absoluto. Tive de dormir com a minha mãe para que ela me controlasse. Precisei de ajuda para tomar banho, ir à casa de banho ou até para me sentar na cama pois sentia muitas tonturas, um efeito secundário normal da cirurgia e também da anestesia. Para além disso, eu tinha de dormir sentada e precisava de ter alguém que pudesse verificar se estava bem sentada.

Uma semana depois, retirei as compressas e dois pequenos silicones que tinha no interior do nariz. Os silicones serviriam de apoio do septo para o manter direito e assegurariam o formato do nariz. Finalmente pude respirar pelo nariz, mas com demasiada dificuldade pois continuava com as paredes das fossas nasais inchadas. Os pontos foram caindo sozinhos e lentamente fui notando melhorias. As nódoas negras começaram a desaparecer, o inchaço já tinha ido e comecei a introduzir sólidos na minha dieta.

Duas semanas depois removi o penso e pala e finalmente, tinha o nariz exposto. Um mês depois comecei a respirar sozinha pelo nariz sem dificuldades e a partir daí, melhorei bastante. Os meus problemas respiratórios finalmente desapareceram, conseguia respirar e nunca mais voltei a ter dores de cabeça e crises alérgicas (excepto sazonalmente, com a vinda da primavera). Para além disso, o meu nariz estava como novo! Mas a parte interessante desta cirurgia foi quando regressei às aulas em Setembro: ninguém percebeu que o meu nariz estava diferente. Os colegas e até professores diziam-me "estás diferente" mas não conseguiam perceber porquê. Perguntavam-me muitas vezes se eu tinha cortado o cabelo pois notavam algo de diferente em mim. Uma verdadeira lição que aprendi - as pessoas tendem a olhar para os traços negativos de cada um de nós, sem nunca notar nos traços comuns ou fisicamente/emocionalmente bonitos que carregamos.

Esta foi a minha experiência e deixo aqui fotografias de todo o processo. Desde o antes e o dia da cirurgia até a um ano de recuperação. Um especial agradecimento ao doutor Carlos Alexandre pelo excelente profissionalismo e preocupação para comigo.

Seguem as fotografias.

Antes:
 




17 Julho de 2012: dia da cirurgia.



- 17:00h da tarde, já no quarto do hospital, 4 horas antes de dar entrada no bloco operatório.


- 12 horas pós-cirurgia (a cirurgia durou 4 horas)






____________ 24 HORAS _____________


___ 3 dias depois ter dado saída do hospital (retirar compressas e mudar o penso) __






____ 1 SEMANA ___



_____ 14 DIAS _____




___ O grande dia da revelação: 2 SEMANAS __


(antes de entrar na consulta, na sala de espera..)









___ 1 MÊS ___ 






1 ano e 7 meses




O septo desviou ligeiramente durante a recuperação e o nariz perdeu um pouco do formato pós-operatório. O doutor avisou que seria normal o formato alterar à medida que recuperava. De salientar que eu tinha 15 anos e o nariz ainda estava em crescimento. Uma segunda cirurgia (felizmente, menos invasiva) seria necessário por volta dos 20 anos. Mas tomei a decisão de não ir avante pois não achei tão necessário.

Fotografia de 2017, 5 anos após cirurgia. 




Fotografia atual - 2020, 8 anos após cirurgia..




Antes e depois:









Qualquer questão que tenha acerca desta minha cirurgia ou caso vai fazer uma cirurgia semelhante ou se tem interesse em fazer uma, contacte-me através do meu email (andreia.mirandascp@gmail.com) enviando-me as suas questões. Guardo o contacto do meu médico-cirurgião especializado em otorrinolaringoloriga, Dr. Carlos Alexandre e os hospitais ou clínicas onde este presta consultas/opera.

O que achou?

Muito obrigada por terem acompanhado a minha experiência! Um especial agradecimento aos meus pais, à minha tia, avós e em especial ao meu querido falecido avô, que esteve sempre presente no hospital e inclusive cuidou de mim.